Bem-Estar, Carioquices, Destaque
Por que os cariocas não doam sangue?
Por Agenda Carioca | Publicado em 23 de maio de 2016
Nos últimos dois meses, o número de doações diárias caiu de 350 para 150 e uma série de cirurgias tem sido adiadas em toda a cidade. (por MARIANA BROITMAN) Há alguns anos, a Antonia - criadora deste guia -, me pediu para que doasse sangue em seu lugar para uma amiga que estava precisando, já que ela estava grávida e não poderia fazê-lo. Sempre tive pavor de agulhas e era da turma que passava direto pelos "trotes solidárias" na faculdade, mas vê-la se sentindo incapaz de ajudar me fez respirar fundo e ir até o discreto posto da Rua Conde de Irajá, em Botafogo. Me lembro dela matraqueando e fazendo de tudo para que meu olhar não pousasse sobre a tal agulha. Tirou fotos e fez graça até quando eu ameacei desmaiar. Ao final, feliz por ter conseguido, bombardeei os enfermeiros de perguntas e um universo de informações se abriu, fazendo com que o meu medo se aplacasse diante daquilo tudo. Me contaram que mesmo que o meu sangue não fosse compatível com o da paciente, minha doação serviria para repor o estoque do hospital; que doar sangue com regularidade provoca uma renovação positiva às células e que a grande verdade é que a maioria dos doadores estão vencendo os seus medos ao se deitarem na cadeira. Desde então, trimensalmente - bimestralmente no caso dos homens -, o banco coletor Hematologistas Associados manda um email-lembrete e lá vou eu, de preferência puxando pelo braço algum amigo novato. Além das agulhas, ainda existem mitos que afastam os brasileiros dos postos de coleta. Alguns deles absurdos, como relacionar doação de sangue a ganho de peso, e outros mais compreensíveis como o risco de se contaminar com alguma doença. Os ambientes, no entanto, são extremamente higienizados, os profissionais, qualificados e os doadores passam por uma longa entrevista que, digamos, chega a pecar por excesso no crivo, excluindo, infelizmente, os homens que tiveram relação sexual com outros homens por menos de 12 meses, independente de proteção ou relacionamento sério. Pena não haver um recrutamento de doadores a altura destes profissionais. Se a prática fosse incentivada desde a escola, os tais atestados até hoje oferecidos se fariam desnecessários. No país, grande parte das doações ainda é ocasional e dedicada a repor o estoque de um paciente específico, mas um doador voluntário e regular aumenta a qualidade do produto e, consequentemente, de seu aproveitamento, devido ao monitoramento - que rende ainda uma série de informações ao doador. Perto do fim de ano, as doações costumam despencar graças às férias e às festas - seguindo assim até o carnaval, quando se acirram as campanhas para atrair doadores. No entanto, me surpreendi ao acordar com um email do posto de coleta e uma notícia n'O Globo alertando que, há dois meses, a média de doações diárias do Hemorio, que tem capacidade para atender até 500 doadores por dia, despencou de cerca de 350 para apenas 150. A ONU considera "ideal" ter entre 3% a 5% da população doando regularmente, caso do Japão e dos Estados Unidos, por exemplo. No entanto, apenas 1,8% dos brasileiros o fazem. Neste momento, uma série de cirurgias em hospitais públicos e particulares estão sendo adiadas graças a baixa no estoque. O INCA também já emitiu sinal vermelho e a sensação é de que os brasileiros não tem a menor ideia de que isso está acontecendo. Com a proximidade das Olimpíadas e a expectativa de cidade cheia, o baixo estoque se faz ainda mais preocupante. Cariocas que já doaram, conversem com os amigos que ainda não tomaram coragem e experimentem vencer o medo com dados e fatos. E você que tem entre 16 e 69 anos, pesa mais de 50kg e não teve Chagas, Sífilis, Malária, Hepatite depois dos 10 anos ou tem AIDS, dá uma olhada aqui no link e saiba onde doar!