Engana-se quem pensa que o boom gastronômico encanta apenas os adultos glutões. Cada vez mais, os pequenos interagem com este universo através de programas de TV, livros e oficinas que chegam para estimulá-los e, consequentemente, conscientizá-los sobre os efeitos da alimentação do nosso corpo. O Ateliê das Ideias é pioneiro quando o assunto é educação e gastronomia. Semanalmente, a cozinha multicolorida no Humaitá se transforma em sala de aula, e o lápis e o papel são substituídos por espátulas, panelas, medidores, tábuas e fouets nas mãos de crianças e adolescentes entre 3 e 15 anos de idade. "A cozinha é um ambiente fértil para vários assuntos. Podemos explorar cores, formas, sabores, como podemos explorar habilidades das crianças e coordenação motora. Ao entrar em contato com alimentos in natura estimulamos que eles se perguntem sobre a origem daquele alimento e essa pergunta tem sempre várias possibilidades", explica Fabiana Figueiredo, pedagoga a frente do espaço. Ela completa que a origem pode ser geográfica, biológica e cultural, o que explica a grade de professores composta por professores com formação em História e em Letras e com especialização em culinária. "Um pai orgulhoso já me contou até que a filha tinha aprendido frações sem sofrimento a partir das medidas usadas nas aulas", lembra. Engana-se quem pensa que existe um "perfil" de aluno adequado, já que todas as crianças que se interessam pelo assunto são capazes de aprender. "Os mais agitados tem seu tempo respeitado e ao mesmo tempo aprendem que na cozinha muita agitação pode ser perigoso. Na cozinha tem lugar para todo mundo", brinca a pedagoga. Lá, crianças a partir de três anos já iniciam o contato com a culinária nas turmas infantis que atendem até a idade de oito anos. De nove a 15 anos de idade, as crianças passam a integrar a turma de adolescentes. E, à título de curiosidade, as meninas nem são mais a maioria: os meninos já dominam a turma de adolescentes e entre eles está o Ian, de 12 anos, que roubou a cena no programa Que Marravilha Chefinhos, do Canal GNT apresentado por Claude Troisgros. Já quanto as crianças que não se interessam, está aí uma ótima forma de estimular a curiosidade. "Geralmente atendemos a duas demandas muito diferentes tem aquelas criancas que estão aqui porque amam cozinhar  e temos aquelas crianças que vem porque tem alguma questão com a alimentação, seja por exagero de alguns tipos de comida ou ser muito seletivo", conta a pedagoga. Durante o primeiro semestre de 2016, os alunos do ateliê mergulharam no fantástico mundo dos sabores, aromas e temperos brasileiros. Para a segunda fase, eles retomam as atividades apresentando a base da culinária, a partir das técnicas e de ingredientes frescos e mais utilizados na gastronomia mundial. (por MARIANA BROITMAN) 

SOBRE O ATELIÊ 

Há seis anos o espaço no Humaitá parte do poder dos alimentos e suas infinitas possibilidades para estimular os carioquinhas. "O Atelie nasceu para as crianças! Cresci em uma família que quase ninguém cozinhava e eu passava o tempo todo atras das pessoas que cozinhavam para tentar entender mais daquilo que amava. Curiosa, eu ficava perguntando tudo e querendo experimentar as coisas. Comecei a me arriscar por volta dos 9/10 .  Nunca pensei que essa minha paixão fosse se transformar em trabalho", conta Fabiana, que ao se formar em pedagogia pela PUC-Rio, foi professora de educação infantil. Ao perceber que o contato com a cozinha melhorava os hábitos alimentares das crianças - tanto na sua infância, quanto na dos alunos e da filha pequena -, investiu no tema como na pós-graduação. "Constatei o que já suspeitava. A comida é tratada na escola como algo que não faz parte da vida da criança, ela é apenas mais uma tarefa, ou obrigação. Nessa época comecei a esboçar algumas ideias sobre oficinas de culinária para crianças e em 2007 abri o Ateliê bem pequenininho em um apartamento no Jardim Botânico", lembra. Vale a pena conhecer este projeto!

Culinária infantil

Culinária para adolescentes