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Com Paula Braun, ‘Creme do Céu’ ensina astronomia entre dança e vídeosarte
Por Antonia Leite Barbosa | Publicado em 31 de janeiro de 2019

Como é ver o universo pelo olhar de uma estrela? Essa é a pergunta que permeia o novo espetáculo infantil "Creme do Céu", que estreia neste fim de semana, dia 2, no Teatro PetroRio das Artes, na Gávea. Com texto de Rosane Alves, a obra deixou de ser apenas uma brincadeira entre a família da escritora e se transformou em história para os palcos no ano de 2017 na França nas mãos do Grupo Tápias, idealizado pela diretora artística, coreógrafa e sobrinha de Alves, Flávia Tápias, durante o evento Rencontres Essonne Danse.
Inspirada pelo mundo intergalático, a peça acompanha a aventura de uma Estrela, interpretada por Tápias, que deixa a curiosidade falar mais alto e acidentalmente cai no Planeta Terra enquanto tentava descobrir novos caminhos no universo. "Ela é um ser de outro planeta, então ela vai descobrindo as características da Terra através dos outros personagens, assim como eles também vão redescobrindo o universo junto a ela, já que vão estar vendo tudo pelo olhar de um outro ser", conta Flávia. Perdida, a pequena Estrela sente como se tivesse caído em um buraco negro e precisará da ajuda de um Adolescente (Guilherme Gomes), de uma Astrônoma (Paula Braun) e de uma Aprendiz de Astrônoma (Renata Versiani) para retornar à sua terra natal, que é um pouquinho mais distante da nossa.

Escolhido para ser o primeiro a se envolver nessa odisséia vivida pelo ser caído do espaço, o Adolescente é interpretado pelo bailarino e artista de circo, Guilherme Gomes. Com apenas 22 anos, o ator se sentiu atraído pela ideia de interpretar a inocência e encantamento de alguém mais novo que, para ele, tem se perdido cada vez mais no mundo moderno. Essa pureza infantil é, inclusive, um dos pontos de partida da relação entre a Estrela e o menino. Enquanto a personagem de Flávia busca apenas uma solução para o seu problema, o jovem tem apenas uma preocupação: brincar - e a Estrela com certeza não é a pessoa com quem ele gostaria de dividir um brinquedo. "Eles são duas crianças, mas ela é uma pessoa muito estranha e ele não sabe lidar com o fato de que uma estrela caiu no quarto dele. Ela não se movimenta que nem a gente, ela não é humana. O menino, na verdade, acha que a Estrela é maluca e não quer saber das coisas que ela fala, sabe? A medida que o tempo passa, ele acaba se envolvendo na história e começa a escutá-la", explica Guilherme.
Na pele da Estrela, Flávia Tápias performa os números de dança do espetáculo.
A primeira cena, por exemplo, - sem spoiler -, já começa explorando a relação entre os dois personagens, cuja primeira reação quando a Estrela cai no quarto do Adolescente por uma enorme janela localizada no fundo do palco é exatamente essa de descobrimento. Acompanhada de coreografias contemporâneas e videosasrte assinados pela artista plástica francesa Eva Clouard – com exceção do vídeo de abertura, de Marcio Schwartz - e imagens da própria Nasa, a cenografia foi desenvolvida exatamente para transportar o público para esse mundo surreal, de modo a a criar uma experiência educativa e interativa na qual os pequenos sintam que estão explorando o ambiente e prepará-los para a proposta da peça: o olhar da Estrela.
Para auxiliar as duas crianças nessa jornada, nada melhor do que uma cientista bem maluquinha. Por isso, a convite da própria Flávia Tápias, a atriz Paula Braun assumiu o desafio de dançar e atuar em um espetáculo infantil pela primeira vez no papel da Astrônoma. "Quando começamos a ensaiar no dia 2 de janeiro a Flávia disse que tinha um pequeno detalhe: é dança com teatro. Eu falei para ela ‘’amiga, eu sou atriz’’. No primeiro dia de ensaio, a louca me botou em um colchão e me jogou para lá, levantou para cá, e rolou para lá e eu só pensei ‘’Eu vou morrer, não vou conseguir", lembra Paula aos risos. Durante a preparação, que durou apenas um mês, Braun mergulhou de cabeça nesse universo e até emprestou um pouco da sua personalidade para a personagem. Assim como ela, a Astrônoma é bem humorada e desengonçada, bem palhacinha - como diz a atriz.

Apaixonada por Astronomia e pela profissão, a Astrônoma dedica a vida a aprender e a repassar seus conhecimentos para sua pupila. "Com a Aprendiz, ela se faz de desentendida para mostrar uma caminho para que a jovem se torne uma baita profissional e seja tão apaixonada quanto ela pelo universo", diz. A tentativa de sempre chamar a atenção da mestre e mostrar todo o conhecimento que já adquiriu é uma das principais características na relação entre a professora e a estudante. E parece que esse desdém da cientista está dando certo. Pela primeira vez no teatro após construir uma carreira como bailarina, Renata Versiani vive a Aprendiz e aos olhos dela a jovem estudante só tem um objetivo em mente: impressionar a Astrônoma cada vez mais a fim de ser notada. "Ela é super CDF e ela vê a professora como o ídolo dela, ela considera-a tudo de bom e quer ser uma cientista igual a Astrônoma. Então, quando acontece essa queda da estrela ela vê como uma oportunidade de testar todo o conhecimento dela e de ser reconhecida pela Astrônoma", conta Renata, que acredita que esse foco da personagem é algo importante a ser retratado hoje em dia para as crianças.
O público também vai poder se sentir Aprendiz de Astrônoma por um dia durante o espetáculo. Em diversos momentos da peça, Paula Braun interage com os pequenos e se junta à platéia, caminhando entre os lugares, enquanto pergunta coisas relacionadas à temática da obra. "É um se vira nos 30 porque criança é uma surpresa e fala mesmo. Eu estou louca para essa parte, vai ser uma mistura de 'credo, que delícia!' porque dá medo de perder o controle, mas ao mesmo tempo vai ser muito divertido e pode surgir coisas muito bonitas", conta Paula que já está planejando levar os dois filhos, Flora e Benjamin, do casamento com o ator Mateus Solano, para fazerem parte dessa aventura ao seu lado. Guiado pelo olhar dessa Estrela Perdida, o espetáculo "Creme do Céu" fica em cartaz todos os sábados e domingos às 17h até o dia 24 de fevereiro no Teatro PetroRio das Artes.