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De quadro em quadro, artista plástica viaja o mundo
Por Antonia Leite Barbosa | Publicado em 22 de julho de 2019
Há acasos que vêm para ficar. Em uma viagem a Basel, na Suíça, a empreendedora e artista plástica carioca Mary Dutra recebeu um pedido inusitado da sua anfitriã Nathalie: "Eu quero que você produza um quadro exclusivo para mim em dois dias". O que ela não esperava era que o desafio fizesse uma reviravolta na sua vida e abrisse novos caminhos de criações: nascia o projeto The Next Abstract Stop, que transformou a arte em porta de entrada para outras culturas. Hoje, depois de vender todas as empresas e focar no universo artístico, Dutra aposta em um conceito inédito: a partir de uma troca de experiências vivida através de hospedagem ou de uma parceria criativa, a artista oferece obras exclusivas à famílias estrangeiras inspiradas na visão e sentimentos de cada anfitrião. "Essa experiência me levou para esse novo projeto através da minha arte. Os meus quadros expressam sentimentos distintos em diferentes pessoas mas, nesse caso, Natalie sempre vai lembrar do nosso encontro, da história por trás dele. Esse projeto vai muito além de oferecer ao cliente a participação no processo criativo do quadro", conta.
Com o The Next Abstract Stop na ativa há mais de um ano, Mary Dutra já teve a oportunidade de conhecer cidades de três continentes: Malásia, Suécia e Estados Unidos são alguns dos países carimbados nessa nova fase. A busca pela próxima parada depende tanto da artista quando dos interessados, mas o fator decisivo vai muito além de apenas um local para ficar: é preciso que exista a liberdade de imersão na criatividade pessoal e, acima de tudo, entre o hóspede, a arte e o dono da casa. "Anuncio meus próximos destinos ou países dos quais gostaria de ir. E depois entra no processo de conhecer os possíveis anfitriões, suas casas e suas histórias. Avaliamos as ideias, o orçamento e custos até definir data de início do projeto. Destinos fora da minha lista também podem ser agendados, mas envolvem custos mais altos", explica.
Imersa nessa nova relação estabelecida, a artista plástica começa o processo de criação ao lado do anfitrião que dura em média entre uma semana e um mês, variando de acordo com a necessidade criativa da obra. "Junto ao anfitrião, definimos um caminho dentro das minhas coleções a seguir, e tenho um processo de pensamento de cores que também o envolvo. Mas a criação do quadro fica comigo. Felizmente, até hoje nunca tive ninguém que não ficasse realizado com o resultado", diz a artista que, recentemente, produziu seis conjuntos de quadros da viagem. Da experiência, a artista leva os registros do dia a dia através de fotografias e vídeos e compartilha como foi a troca em seu perfil no Instagram @art_marydutra e no site Abstrato Azul.
Hoje, de acordo Mary Dutra, a ideia tem aberto caminhos que talvez o mundo convencional da arte não tenha conseguido completamente, aproximando e introduzindo o fazer artístico para outros grupos. "Muitos dos meus clientes diretos nunca tinham comprado uma obra de arte. E através do meu trabalho, passaram a se interessar e a reconhecer o valor, entendendo a obra como um bem para a vida, diferente de um cartaz bonito que poderiam adquirir de forma bem mais barata e colocar uma moldura bonita", reflete.
Nascida de uma linha de artistas, Mary Dutra já havia conhecido mais de 40 países antes de se dar ao luxo de vender as empresas e investir em um mundo tão instável quanto o da arte. Ciente da posição que ocupa, ela faz questão de registrar que, acima de qualquer luxo, esta é a oportunidade de se conectar com pessoas que ela, talvez, nunca pudesse ter visto na vida e que, graças à arte, hoje oferecem "um significado concreto e pessoal a um quadro abstrato" e à sua vida. A arte para ela já deixou de ser um hobbie e se transformou, influenciado por um acaso, na sua paixão-guia. O próximo destino já está decidido: Itália. Mas, assim como tudo o que aparece na tela, a vida é uma surpresa e ainda não está definido onde será o encontro da artista com seu próximo acaso.